domingo, 8 de abril de 2012

TESTEMUNHA 4 na França

Carla Ribas em TESTEMUNHA 4




O documentário TESTEMUNHA 4, de Marcelo Grabowsky, realizado a partir da encenação de Eduardo Wotzik de O INTERROGATÓRIO, participou, no fim do mês passado, do Festival de Toulouse (Cinélatino, 24èmes Rencontres de Toulouse), na França.


Links de publicações locais falando sobre o filme (em francês):
http://www.cinelatino.com.fr/film/testemunha-4

http://peliculacinelatino.wordpress.com/2012/03/28/competition-documentaire-testemunha-4/





quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Marcelo Grabowsky ganha prêmio de Melhor Direção por TESTEMUNHA 4



O diretor Marcelo Grabowsky ganhou o prêmio de melhor direção na Semana dos Realizadores pelo filme TESTEMUNHA 4, documentário de longa metragem realizado a partir da montagem de 24 horas ininterruptas da peça O INTERROGATÓRIO, que ocorreu em setembro de 2009, no Rio de Janeiro.

A primeira sessão do filme aconteceu no dia 21 de outubro, no Unibanco Arteplex, e arrancou aplausos emocionados da plateia. O longa (primeiro de Marcelo) acompanha a trajetória da atriz Carla Ribas ao longo do processo de 24 horas e mostra como o passar das horas, a emoção e o cansaço interferem na sua interpretação.

Para quem não pôde estar na primeira exibição, uma ótima notícia: TESTEMUNHA 4 terá uma nova sessão, desta vez no Instituto Moreira Salles, no próximo dia 5 de novembro, às 14hs. Ingressos a R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia), sujeito à lotação da casa.

Parabéns, Marcelo, em nome de toda a equipe de O INTERROGATÓRIO!!!


Carla Ribas em Testemunha 4, dia 5/11, às 14hs
Instituto Moreira Salles - Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea - Tel.: 21 3284-7400 - Fax: 21 2239-5559

Matéria publicada sobre o filme TESTEMUNHA 4



Carla Ribas como Testemunha 4 no filme de Marcelo Grabowsky


A VOCAÇÃO DA ETERNIDADE

O romancista Alexandre Dumas publicou uma carta em meados do século XIX defendendo o poeta Gerárd Nerval das acusações de louco. Mais que defender, ele exalta as qualidades de Nerval e faz uma pergunta fundamental: de onde nasce a sua criação? Nerval começa o livro “As Filhas do Fogo” respondendo a essa pergunta e pedindo a ajuda de Dumas para lidar com um personagem. Um ator que se apaixonara de tal forma pelo personagem de Nero, que intentava queimar todo o teatro com o público dentro. É  o ator que chegou, enfim a ‘vocação da eternidade’ da arte.

O Filme de Marcelo Grabowsky nos propõe um olhar para uma peça. Uma peça encenada por 24 horas seguidas (o diretor propôs aos seus atores que não saíssem de seus personagens em nenhuma dessas horas). Há uma personagem. Uma judia, que a partir do seu testemunho nos informa que sofreu as maiores torturas num campo de concentração. Há uma atriz que repetidas vezes faz o mesmo papel por 24 horas. Há um público que se transforma em personagem e está relegado ao papel de eterna realidade. E há um filme que mais do que refletir sobre a representação, quer olhar pros curtos-circuitos que existem no estatuto da imagem e tirar daí uma imagem pura.

O filme inicialmente pode ser comparado ao ‘Moscou’ de Eduardo Coutinho, pela proposta e pela liberdade que se permite no que se refere a sua misé en scene. Mas Marcelo aqui, não tem por objetivo estabelecer um jogo de representação, ou melhor, aqui ele escolhe perder esse jogo, e quem emerge é o falso em sua potência. O filme, baseado na peça de Peter Weiss, ‘O Interrogatório’,  acompanha a atriz Carla Ribas no palco e nos bastidores. Nos dois espaços é a personagem da Testemunha Judia que está ali. O primeiro grande curto circuito está no momento em que a atriz/personagem desce do palco e uma amiga da atriz vem cumprimentá-la enquanto ela mantém o semblante impassível. A amiga fala: “Não vai pirar, isso é só teatro”. A personagem não entende a língua da amiga da atriz. Ela estava ali no que os estóicos vão chamar de uma outra duração. Ali ela não estava existindo, mas coexistindo. O que é um ator, senão aquele que tem as chaves da coexistência, não somente dos espaços, mas das durações.

A repetição no filme é captada de forma tão poderosa que chega em momentos a colocar em suspensão inclusive os momentos em que a atriz está nos bastidores. Tudo é arrastado com uma força centrífuga, em que todos os elementos ficam submissos ao olhar da personagem. Objetos, sentimentos, pequenos gestos silenciam frente à manifestação dessa comunhão espiritual, absurda e forte que, usando as palavras de José Saramago, talvez nos faça crer que é possível, pelo menos por alguns instantes, vencer a morte.

No instante em que a personagem canta uma música do folclore judeu, nos momentos de cansaço, nas vacilações do texto e na tirania que a realidade impõe por fim, há uma câmera que testemunha com o mesmo vigor e a mesma complacência. Quando os atores começam a vencer as personagens, a câmera continua. E quando os atores vão se confraternizar na praia a câmera também está, pois a perplexidade do olhar é de um filho para uma mãe. Que as vezes olha com os olhos de um bandido e por vezes de um conterrâneo de alma. Um filme para ser amado.



FONTE: http://justoimagens.wordpress.com

Teasers de TESTEMUNHA 4

Testemunha 4 - teaser from Mirada Filmes on Vimeo.


Testemunha 4_novo teaser from Mirada Filmes on Vimeo.

Documentário TESTEMUNHA 4 na III Semana dos Realizadores



O filme TESTEMUNHA 4, documentário dirigido por Marcelo Grabowsky e realizado a partir da montagem de 24 horas de O INTERROGATÓRIO, foi selecionado para a terceira edição da Semana dos Realizadores, um festival conceituado que acontece no Rio e funciona como alternativa à exibição de longas com caráter mais autoral e de jovens diretores, e este ano, pela primeira vez, conta com uma mostra competitiva.

A primeira sessão de TESTEMUNHA 4 ocorreu no dia 21 de outubro, no Unibanco Arteplex, e a segunda exibição se dará no próximo dia 5 de novembro, às 14hs, no Instituto Moreira Salles. É uma ótima oportunidade para quem viu (e para quem não viu) O INTERROGATÓRIO de conferir o filme, que é um recorte da peça e acompanha a trajetória da atriz Carla Ribas interpretando a personagem Testemunha 4 ao longo do processo de 24 horas ininterruptas em cena. É uma investigação do mergulho desta atriz, e de como o passar das horas, a emoção e o cansaço vão interferindo na sua interpretação.


Carla Ribas como Testemunha 4


TESTEMUNHA 4

(69 min / HD / 2011 / RJ)
com: Carla Ribas
Realização: Marcelo Grabowsky
Montagem: Marilia Moraes e Ricardo Pretti
Câmeras: Bernardo Scotti, Julio Costantini, Leo Bittencourt, Mario Cascardo
Assistentes de direção: Aline Portugal e Julia De Simone
Edição de som e mixagem: Bernardo Uzeda
Supervisão de som direto: Jonas Louzada e J. P. Fonseca
Correção de cor: Julio Costantini
Produção: Carlos Eduardo Valinoti e Deborah Piller
Produção executiva: Marcelo Grabowsky
Finalização: Titânio Produções
Supervisão de finalização: Tiago Arakilian
Coordenação de finalização: Débora Gusmão
Assistente de finalização: Carolina Jessula
Tradução para o inglês: Barbara Venosa
Foto do cartaz: Guga Melgar

Uma produção Mirada Filmes


INSTITUTO MOREIRA SALLES:
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
CEP 22451-040 – Rio de Janeiro-RJ
Tel.: 21 3284-7400 – Fax: 21 2239-5559

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Crítica de O INTERROGATÓRIO na Folha de São Paulo

CHRISTIANE RIERA

CRÍTICA DA FOLHA

Tour de force seria um eufemismo para definir tamanho esforço artístico e físico da montagem de 12 horas de "O Interrogatório", adaptação da peça do dramaturgo alemão Peter Weiss e uma verdadeira "vigília cênica", como definida pelo grupo carioca Centro de Investigação Teatral.

Trata-se de uma reconstituição dos momentos finais do julgamento de Frankfurt (1963 -1965) dos ex-guardas nazistas de Auschwitz. Ocupando parte da plateia, de um lado, os acusados. No canto oposto, as testemunhas. Soltos pelo palco, promotor e advogado. Ao centro, o juiz cara-a-cara com o público, que ouve os relatos envolvendo câmaras de gás, o Zyklon-B, experiências científicas, cercas elétricas e o muro negro. Um time de 40 atores impressiona pela devoção, precisão e, acima de tudo, pelo talento.

Cena da peça "O Interrogatório", em São Paulo



Na dramaturgia de Weiss, o esperado. Uma mistura de transcrição tecnocrata com narrações de comoção única sobre os detalhes da rotina de crueldade inarrável em um campo de extermínio. Na leitura do diretor Eduardo Worzik, uma surpresa. Palco e plateia se fundem, transformando o teatro em tribunal.

O texto ganha caráter ritualístico quando, depois de 5 horas, os depoimentos começam a se repetir, apontando para uma circularidade infinita além da sensação de que estamos, de fato, em uma reunião de cunho social-religioso em que propósito é realmente velar eventos trágicos.

Às 6 da manhã, por volta de apenas 10 pessoas na plateia, insones sob o efeito desta oratória estonteante. Com a saída dos atores, um silêncio retumbante.

Das trevas do teatro, algo grandioso e indecifrável, que também abarca os hutus em Burundi, os tutsis na Ruanda ou ainda os timorenses e os haitianos e outros inúmeros descaminhos jamais desvendados da humanidade. E ecos distintos da já folclórica frase de Joseph Conrad: "O horror! O horror!"

Uma reflexão sobre O INTERROGATÓRIO, a partir do olhar de um espectador

Que “o campo” ainda sobrevive, eis aquilo de que não devemos nos lembrar, se a vida puder se perder na ficção. E se é assim que temos vivido, haveria ainda espaço para a resistência? “O Interrogatório” não pretende discutir essa questão. Simplesmente instaura um espaço privilegiado de resistência.

É magnífica a forma como a peça instaura a repetição em diversos níveis. Parece fundamental que se reconheça na própria racionalidade do processo em andamento a perpetuação daquilo que se pretende condenar. Algo que aparece do modo mais claro na figura do advogado de defesa, cuja atuação ambígua só pode escapar ao desespero ao nos remeter sempre de volta à lei. Essa mesma lei em nome da qual apenas cumprimos o regulamento, pretendendo escapar, com isso, à dimensão ética de nossos atos.

Mas há ainda uma dimensão silenciosa, quase subterrânea, de encenação dessa triste verdade. Há a personagem que fica transitando com uma pasta, de onde eventualmente retira papéis a serem assinados pelo juiz. Figura que aparece como um olhar onisciente, que se move de modo irrestrito por todas as dimensões do espaço público, supervisão atenta de tudo o que se passa nesse espaço. Podemos reconhecer nela uma espécie de encarnação da instância superior à qual todos sempre poderão se remeter ao pretenderem justificar seus atos em nome da lei. Uma espécie de encarnação da própria Instituição, que não enuncia ordens a ninguém, mas configura o campo no interior do qual a lei pode vigorar. Inscrita do outro lado da Instituição, temos a servente mansa, calada, obediente, impotente e, acima de tudo, encarnação do ponto onde a resistência se torna impossível. Lugar onde a única alternativa é estar em acordo com as próprias coordenadas que a destituem de qualquer liberdade. Figura dócil que se molda de acordo com seu papel, como todos os outros. Atualização cínica do espetáculo.

Em contrapartida, podemos reconhecer na figura de outra personagem sem voz alguns dos pontos cegos da lei, que se constituem como lugares onde a resistência se torna possível. Possível, mas às vezes inexistente, como é o caso da figura da faxineira. Embora seja uma serviçal, sua conduta não se ajusta sempre às regras. Sem uniforme, trata-se da única personagem que, em alguns momentos da peça, sobe ao palco pelo centro, sem usar as escadas laterais. Um pouco como se estivesse na borda da lei - às vezes com ela, outras fora dela. Em todo caso, está em cena. Onde quer que se configure um espaço de liberdade no interior da lei, ali ela poderá habitar. Como quando se diverte cantarolando e comendo com as testemunhas, num intervalo do julgamento. Ela é a própria encarnação do intervalo, da ruptura, da fronteira. Seu poder subversivo reside precisamente nisso: habita o interstício.

Mas há também aquele que está na sombra, fora de cena. Lugar da memória, inscrevendo nomes nas paredes. Como se fosse ele que, justamente estando fora da história, pudesse contá-la, ainda que a única maneira pela qual se pudesse fazer isso fosse a repetição daquilo de que ainda não escapamos. Seria equivocado dizer que ele não tem voz, pois sempre aparece com a música. É ele o artista, aquele que aponta para um outro horizonte possível. Tudo se passa como se toda peça a que estamos assistindo emanasse dessa figura. É ele quem nos lembra durante a peça, como não deveremos esquecer ao sair, que o ator está condenado, n’O Interrogatório, a permanecer na única posição ética possível. Somente o público pode descansar, ou nem mesmo estar lá pra ver... Algo que lembra as palavras de Plínio Marcos, de que o talento do ator é muito mais uma condenação do que uma dádiva. Nunca isso foi levado tão a sério.

O teatro, então, pode nos aparecer como uma estratégia de resistência realmente possível. E enquanto o público se cansar, os atores não poderão descansar. Repetir sempre, e quando houver exaustão, que se repita ainda outra vez. Enquanto alguém puder dizer “eu não me lembro”, enquanto alguém puder perguntar, atônito, se “não houve resistência?”, que o tribunal permaneça aberto. Até que não seja mais possível esquecer.

Pois devemos nos aproximar de “O interrogatório” colocando a questão de modo inverso: o que acontece quando a ficção se torna realidade?


Beto.