sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mulka




"Fui ajudante de ordens, cuidava dos orçamentos, distribuía trabalhos, estudava a identificação dos presos.
Era um trabalho de ordem administrativa.
Além disso, também acompanhava o comandante nas recepções, cerimônias solenes, enterros e dirigia a guarda de honra.
Nunca tive o hábito de perguntar aos meus superiores sobre as execuções de que ouvia falar, afinal era um assunto secreto do reich, não me dizia respeito e eu tinha que cuidar de minha família e de mim mesmo.
Mas sempre estive convencido que aquelas ordens visavam um objetivo de guerra.
Somente no final do meu tempo de serviço é que fui me dar conta de tudo e senti profunda repulsa.
Aquilo tudo arrebentou meus nervos, fiquei tão doente que fui transferido pra um hospital.
Mas quero deixar bem claro que vi tudo de fora, nunca me envolvi pessoalmente, eu era contra aquilo tudo.
Eu também fui vítima!
Fui retido por opiniões terroristas e fiquei 3 meses numa prisão.
Quando me soltaram, sofri com os terríveis bombardeios aéreos dos nossos inimigos, destruíram nossas casas, nossas cidades.
Foi quando pude salvar a vida de muita gente.
Eu, um antigo oficial, ajudei a desentulhar escombros.
Perdi meu único filho.
Mas também não se deve esquecer, nesse processo, 2 milhões de homens que deram suas vidas pelo nosso país.
Não se deve esquecer o que aconteceu depois da guerra e o que ainda se faz contra nós.
Afirmo mais uma vez que apenas cumpri ordens, mesmo quando essas ordens me pareciam penosas e me levavam ao desespero.
Hoje, quando vejo nosso país voltar a ser uma grande potência, acho que temos coisas mais importantes a fazer do que ficar remoendo antigas acusações que ha muito tempo já deviam ter sido prescritas."

Mulka 




*por Silvio Pozatto

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