segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Testemunha 7






"Fui escolhido para a câmara de gás junto com outros 1.200 presos. Como haviam outros grupos para serem executados na nossa frente, tivemos que esperar algumas longas horas. Até hoje não sei como consegui escapar. Segui a indicação de um detento e me escondi numa enfermaria. Por que ele me escolheu entre tantos outros, eu nunca vou saber, mas é fato que devo minha vida a ele, nem sei seu nome. Já na enfermaria, graças a meus conhecimentos de medicina, escapei da morte quando fui descoberto e me tornei detento médico da brigada especial de serviço dos crematórios. E ali eu pude ver muitos dos nossos caminhando para a morte nas câmaras de gás. Eu pude ver o estado dos cadáveres assim que a porta da câmara era aberta. A imagem que eu vi me atormenta até hoje. E essa culpa por ter participado dessa barbárie, mesmo que indiretamente e sob pena de morte, continua a me consumir por dentro, mesmo depois de tantos anos. Perdi meus pais, irmãos, parentes, amigos. Perdi minha casa, depois que retornei do Campo. Cheguei a perder a vontade de viver. Mas, se ainda continuo vivo (e falo não só por mim, mas por todo o nosso povo e pelos outros povos que também sofreram nas mãos dos nazistas), talvez seja pra mostrar ao mundo toda a verdade e impedir de alguma forma, mesmo que pequena, que as gerações futuras passem novamente por todo o horror ao qual fomos submetidos." 

Testemunha 7





*por Thiago Magalhães 

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